quinta-feira, 21 de junho de 2007

A experimentação psicológica e o ensino do desenho

Resenha do texto: Arte-educação no Brasil de Ana Mae Barbosa; Ed. Perspectiva S.A., 3 ed., São Paulo, 1999.

No sexto capítulo, a autora, estabelece relações entre a , em especial na cidade de São Paulo, no ensino primário e normal, em fins do século XIX. Quando da implantação da Constituição Republicana de 1891, foi concedida uma certa autonomia no ensino do desenho, desencadeando mudanças significativas em especial para o ensino da arte no estado de São Paulo.
Fatores históricos e econômicos que moldaram a base metodológica, permitindo o desenvolvimento de programas de formação de professores adaptados para um modelo de caráter nacional-republicano, pautado em premissas de autonomia para a construção do novo modelo republicano.
Importante ressaltar a importância da crescente influência de escolas norte-americanas e da entrada de imigrantes missionários protestantes, que fundaram inúmeras escolas modelo em São Paulo. A autora cita alguns exemplos como a Escola América, O Colégio Mackenzie (1921) e a Escola Piracicabana todas, modelos de uma educação de valorização do conhecimento científico e tecnológico e em consonância com pesquisas científicas da área da psicologia a aplicada à educação e como prática a ser incorporada e estudada pelos educadores.
Tais práticas, alimentadas por um trabalho minucioso, desenvolvido por psicólogos e psicanalistas (estudiosos do desenvolvimento cognitivo da criança e da percepção) eram trazidas das escolas americanas para o ambiente da elite nacional e incorporada às práticas pedagógicas. No ensino do desenho agregou valores no âmbito do desenvolvimento cognitivo, da percepção, da linguagem, da expressão e da incorporação das idéias de imaginação, de livre-expressão e de criatividade na produção gráfica infantil. Que segundo pesquisadores ajudariam no processo de compreender o desenvolvimento do raciocínio da criança e de seu processo criativo e de relação com a realidade.
Segundo o professor Adalgiso pereira, citado pela autora, como um dos precursores e pesquisadores dessas práticas no país, a compreensão do pensamento da criança através de sua produção gráfica, pode oferecer pistas sobre a realidade vivenciada por ela, comprovando as diferenças cognitivas da realidade tal como é percebida pelo adulto. Esta concepção, segundo a autora, inovadora para a época, permitia uma ampliação no campo do ensino da arte, uma vez que, atribuiu valores não só ao trabalho da criança, afirmando a existência de uma estética própria e inclusive necessária para um desenvolvimento saudável, mas também pondo em xeque a questão da obrigatoriedade do ensino do desenho através da cópia e da super-valorização da estética do belo baseado em modelos neoclássicos em detrimento da livre-expressão.
O reconhecimento e valorização da estética e espontaneísmo do desenho infantil, ganha forças a partir da Semana de Arte Moderna, que traz em si as influências européias e americanas do dadaísmo, do expressionismo e do futurismo.
A Primeira Guerra Mundial, traz como conseqüência a necessidade de inovação tecnológica industrial para o país, que passa a desenvolver este campo da atuação com a ajuda de imigrantes e com a formação de uma mão-de-obra especializada. Para atender a tal demanda, algumas medidas são implementadas no campo educacional e o desenho ganha um caráter mais técnico. O exemplo de São Paulo é difundido para outros estados com o intercâmbio entre professores de outras regiões como norte e nordeste.
Tais tendências no ensino do desenho desenvolveram-se historicamente até a diferenciação entre desenho técnico e desenho de expressão sem deixar, contudo, de incorporar o fator criativo em ambos os aspectos.

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