O Grande Jogo da memória (1991)
Fotografia, plástico polivinílico (detalhe com 156 peças)
Dimensões 6,5 X 9,5 cm (cada)
HERKENHOFF, Paulo. Rosângela Rennó. São Paulo: EDUSP, 1998.
Também esta obra sofrerá limitações de análise, por se tratar de uma investigação feita a partir de impressões de imagens fotográficas difundidas sob o mesmo registro em outros livros e sites. Como pudemos verificar nessas fontes, em momento algum, encontra-se um registro que leve em conta a recepção da obra pelo público ou maneiras de interagir que aprofundem sua compreensão. Permanecendo a impressão sugerida pelo registro do fotógrafo e pelo caráter da obra representada. Ainda que, em síntese, tenhamos conseguido captar sua essência interpretativa, nada substitui a vivência in loco e a confrontação com a mesma em tempo real. A relação estabelecida com a obra bem como o local que ela ocupa no espaço expositivo, a ressignifica e lhe agrega valores, que só a vivência pode fomentar.
Tal fato, contudo, longe de impossibilitar minha análise, coloca em prática e explicita questões abordadas nesta pesquisa sobre a fotografia e a realidade. No caso desta obra, em especial, a fotografia revela-nos o mistério e mantém-no velado. Na medida em que nossa curiosidade encontra-se impossibilitada de explorar e desvelar a obra, em tempo real, mesmo que (e isto é importante relembrar), saibamos que todas as fotografias desse jogo da memória sejam de pessoas anônimas, não nos contentamos com imagens imaginárias e desejamos visualizar a obra como um todo, tal como foi concebida pela artista. Analisando uma a uma as fotografias escolhidas e as pessoas selecionadas para compor este “jogo”. Não nos contentamos com o fato de criar outras possibilidades fisionômicas para as “cartas” que estão ocultas pois, este tipo de imaginação, apesar de criativa produz “novos” anônimos e a obra acaba por adquirir um novo significado.
Tal curiosidade transita entre o desejo de revelação das imagens representativas desses indivíduos e o desejo de revelação da própria obra, o que nos põe em contato com a expressão da artista, que revela: “As veladuras e apagamentos intencionais que proponho, tem como objetivo gerar uma espécie de dificuldade, para forçar o espectador a buscar a imagem no limite da visibilidade.”[1] O que nos faz imaginar ainda, as possíveis maneiras que ela estrutura a obra a fim de provocar reações diversas tendo, como referencial particular o espectador diante da obra.
Contudo, outras coisas nos instigam, tanto na imagem desta obra quanto na obra em si, conhecer a origem de cada imagem que a compõe e colocar esse “jogo” em prática, jogando-o. Desejamos descobrir como se deu o processo criativo de produção desde sua concepção até a sua instalação em diferentes espaços expositivos, sua repercussão nas diversas localidades e com públicos distintos.
No livro da EDUSP à cerca de Rosângela Rennó[2], consta sobre os trabalhos realizados pela artista no decorrer de sua carreira, descrevendo alguns pontos significativos nesta construção da dualidade Identidade/Não Identidade, em sua trajetória e afirma: “Rennó opera a crítica, através da articulação das imagens, da própria função simbólica da fotografia como processo de retenção do tempo.”[3]
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