O longa-metragem “Santiago”, de João Moreira Salles, que passou no dia 14 às 21h30, no Teatro Glória, recebeu o prêmio de Melhor Documentário no 29º Festival de Cinema do Real, em Paris, e reúne entrevistas que o diretor fez com o ex-mordomo de sua família, em 1992, na intenção de realizar um filme documentário. Posteriormente, o diretor retoma o material e resolve fazer um filme sobre o filme que realizaria, propondo assim uma metalinguagem, que leva o público a refletir sobre a natureza do cinema.
Na medida em que o diretor encanta pelo uso dos recursos cinematográficos ele também proporciona ao espectador o vislumbre do desencanto, quando expõe de maneira exaustiva as divagações e memórias de seu personagem, seus anseios e obsessões, na maneira como as cenas são montadas, que cenários e ações são compostos, deixando perceptível o controle de algo aparentemente dotado da mais pura espontaneidade.
O encanto do filme encontra-se na linguagem cinematográfica em si. Os sons, a música, a interferência dos produtores, a escolha do preto e branco, que confere uma dramaticidade e um certo classicismo à narrativa. Mas, sobretudo, à fotografia de Walter Carvalho com inspiração nos planos utilizados pelo cineasta japonês, Yasugiro Ozu (1953) ao qual o diretor faz referência nos créditos ao final do filme. A maneira como se explora a intertextualidade, a fronteira entre as diversas linguagens da arte, a plasticidade das cenas, com iluminações minuciosamente planejadas, no intuito de conferir maior expressividade ao personagem e às locações, ao gestual, a inclusão de textos e a maneira como esses textos ocupam o espaço da tela, são detalhes marcantes da composição documental e que por si sustentam a obra e traduzem a sua poética.
Tais elementos transformam a narrativa num feedback sentimental sobre um lugar do passado, a casa do diretor, na Gávea, no Rio de Janeiro e um personagem memorável. Com relação à antiga casa do diretor na Gávea, vale a pena lembrar as cenas iniciais, onde dentro de um ambiente de estúdio são expostos em seqüência, porta-retratos com fotografias em preto e branco, de espaços internos dessa mesma casa, que pelo conteúdo simbólico, de porta-retratos que detém retratos de espaços vazios, já valem todo o filme.
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